Riscos, custos e desconfortos evitáveis
Mais e mais nossas cidades vão se tornando dependentes da
confiabilidade, segurança e custos dos serviços essenciais e soluções
urbanísticas. Novos estatutos, leis, normas técnicas etc. aparecem, nem sempre
de forma hierarquizada, coerente.
Lamentavelmente a fiscalização e critérios de análise
remontam a épocas passadas, quando vivíamos em condições radicalmente
diferentes das atuais.
Nosso povo não tem a obrigação de entender as sutilezas
técnicas de nossas concessionárias e os padrões que as prefeituras e agências
reguladoras estabelecem. A falta de conhecimentos viabiliza qualquer solução ou
o mau serviço. O cenário é assustador para quem entende e sabe o que pode
acontecer diante da segmentação de responsabilidades e burocratização das
intervenções.
Em tudo prevalece a ignorância e até a sensação de má fé de
gente que decide.
Em Curitiba, exemplificando, a descoordenação técnica é
flagrante expondo a população a situações inacreditáveis, principalmente para
aqueles que dependem dos serviços públicos e não podem usufruir das delícias da
tecnologia disponível para quem tem muito dinheiro.
Obras descoordenadas provocam intervenções frequentes das equipes
de manutenção. Calçadas, um caso desesperador, (faixas de servidão) são feitas e refeitas com
padrões ruins, incompatíveis com a utilização normal a que estão sujeitas, de
pedestres a caminhões sobre um piso que esconde tubulações diversas. Se
acontece uma reforma de algum circuito pode acontecer, como vimos na D. Pedro
I, bairro da Água Verde, uma canalização nova da Compagas (1) em paralelo com um
circuito velho da Sanepar (2) sob uma calçada ruim
(bonitinha, mas ordinária) em local de acesso de caminhões de carga. Bastou um
caminhão manobrar sobre esse circuito num ponto erodido para tudo afundar num
buraco criado pela fuga de água de manilhas antigas.
Obras gigantescas não têm planejamento de canteiro, usando
as ruas e passeios a critério de seus responsáveis. Prédios enormes são feitos
sem áreas verdes e espaçamentos adequados (que poderiam ser extremamente úteis
durante as obras). Todos precisando de energia, saneamento básico,
comunicações, água potável (que deve ser bombeada até o último andar),
transporte coletivo, acessibilidade etc. e sobre escavações gigantescas
dedicadas a garagens subterrâneas.
A sensação que temos é a de flagrante degradação de
gerenciamento técnico e a criação de dificuldades no varejo; cada problema
precisa ser resolvido individualmente, criando multiplicação de projetos
similares, carimbos, custos, critérios e transtornos...
O problema da descoordenação é visível em todos os níveis.
A estiagem que enfrentamos não é novidade. Os mais velhos
devem ter na lembrança muitas outras. O que as autoridades faziam nesses
últimos anos? Que riscos consideraram aceitáveis? Deixavam acontecer? Em
situações de crise vale tudo, inclusive aumentar tarifas sobre as quais incidem
impostos apetitosos aos governantes de plantão.
Precisamos de gerenciamento técnico rigoroso e transparência
total.
Onde estão aqueles que deveriam manter nossos governantes e
legisladores bem informados e sem desculpas tenebrosas?
As epidemias e endemias e os escândalos envolvendo até
hospitais universitários demonstram a incompetência e alienação de gente que
considerávamos acima de qualquer suspeita.
Nosso povo sofre e paga caro. Tem culpa? Uma grande nação
mantida desde a invenção do Brasil no pior nível de ignorância sabe o que
acontece? Os teatros políticos ajudam-na a entender, interagir, vigiar?
O pesadelo que enfrentamos simplesmente caminhando, o meio
mais ecológico e sustentável de mobilidade, é também esclarecedor quando
andamos conscientemente, olhando e analisando o que enfrentamos.
Podemos e devemos melhorar muito, reduzir custos, aumentar a
confiabilidade de tudo que é necessário para termos uma vida decente.
O que falta é acima de tudo foco em nossos pesadelos.
O que acontece, atualmente, exceto na atuação dos MPs, Poder
Judiciário, Polícia Federal e GAECOs, devidamente apoiado por uma nova
modelagem de jornalismo, é a nossa esperança que, entretanto, precisa ser
complementada pelas corporações de engenheiros, arquitetos médicos etc. para a
reformulação do gerenciamento técnico do Brasil.
Cascaes
19.5.2015
1. COMPAGAS. COMPAGAS. [Online]
http://www.compagas.com.br/.
2. SANEPAR. [Online]
http://site.sanepar.com.br/.