Serviço essencial ou instrumento de especulação: a energia
elétrica.
Uma sucessão de governos neo - surrealistas tem custado
muito caro aos brasileiros. Essa situação é agravada pela concentração
absurdamente elevada de atribuições e impostos na União; perdemos estímulos e
excelência em estados e cidades que poderiam ser muito melhores. Nas condições
atuais resta-nos exigir da Presidência da República capacidade gerencial
sobre-humana num país lotado de gente “esperta”.
Há muitas décadas passadas vivíamos em casas onde a fossa
séptica era o “esgoto” da residência, complementado por algum córrego para onde
escoava a água do cocho (com cheiro bem peculiar). No quintal fazíamos gravetos
para facilitar o acendimento de fogões à lenha. A chaminé era importantíssima.
Dentro de casa ou em algum barraco a lenha era guardada, lugar excelente para
escorpiões e coisas parecidas. As casas rarissimamente tinham algum telefone ou
geladeira. O telefone era conectado por fios condutores de eletricidade, sinais
analógicos, tarifas congeladas e assim ter ou não um telefone era algo de
extremo luxo. A geladeira dependia de blocos de gelo que comprávamos na fábrica
de gelo (privilégio de rico). No galinheiro pegávamos ovos e o galo cantava
diariamente. A noite chegava escura, hora do ângelus e da sopa para logo depois
tomar banho e dormir. O rádio era fonte de alguns sons e zumbidos, mas o
Reporter Esso imperdível. Luz de poucos “focos” e apenas a visão da mãe com os
últimos serviços da noite...
Os tempos mudaram e o que chamamos de serviços essenciais
ganharam força. Até a alimentação mudou, agora deve ter preços constantes, vir
embalada com etiquetas, industrializada.
Tudo é objeto de um mercado que equaliza mundialmente
padrões e preços, menos os salários.
Dependemos de energia elétrica (falando do que conhecemos
melhor), talvez mais do que outros insumos. Já imaginaram uma greve padrão
bancários dos empregados das empresas de eletricidade? Nossos legisladores não
têm coragem de regulamentar paralisações de serviços essenciais...
Produzir, transmitir e distribuir energia elétrica virou um
negócio múltiplo e confuso, que negócios!
Vivíamos livres, somos escravos de concessionárias.
As empresas de eletricidade, na necessidade compulsiva do
mercado universal de viabilizar bolsas e aplicações de fundos até sem fundos
(mas com crédito em bancos tipo BNDES), transformaram-se em instrumentos de
especulação. Produzir, transformar, transmitir e distribuir energia elétrica no
Brasil é objeto da pior exploração possível. Neo liberalismo? Já não sabemos,
pois desde que FHC que pediu que esquecêssemos seus discursos ou livros, não
sabemos o que pode acontecer, nada é previsível e comportamentos coerentes,
éticos e atinentes a discursos e programas de campanha perderam sentido. O que
vale é a vontade e os caprichos da Corte.
O Partido dos Tadinhos, o PT, mostrou-se extremamente
simpático aos especuladores. Era a última esperança, foi-se. De qualquer jeito
não é mais confiável. Talvez saia do comando do Brasil.
O que aconteceu com as empresas de energia elétrica é algo
kafkiano, surrealista. Previsão de mercado quando decisões de um Banco Central
estranho podem quebrar todo mundo? Avaliar capacidade de produção de energia
num parque gerador predominantemente hidráulico? Estimar oferta de energia se as
centenas de usinas, linhas de transmissão, subestações etc. em construção
carecem de fiscalização eficaz (ou estão sob sigilo?).
O próximo governo talvez seja “neo liberal”. Será que poderá
ser mais liberal que o governo anterior?
O início da etapa final da campanha eleitoral começa a criar
adjetivos e clichês. O que será lembrado e o que os vencedores esquecerão? Que
corporações mandarão no Brasil, um país aculturado no clientelismo, leniência,
subserviência e bajulações de todo tipo?
Felizmente a estrutura policial evolui a partir da Polícia federal
e a Justiça talvez ganhe novos parâmetros, mais justos e necessários ao nosso
povo.
Precisamos de bons serviços essenciais, agora
imprescindíveis, pois nem criar galinhas sabemos mais.
O que aconteceu com as empresas de energia elétrica
demonstra nossa fragilidade...
Cascaes
6.10.2014