Autonomia, auto suficiência e dependência criteriosa
O comércio internacional levou a todos os quadrantes da
Terra mudanças e dependências que tendem a padronizar usos e costumes, talvez
para melhor, mas a impressão não é essa. O imperialismo das grandes potências
caiu pesado sobre nações menos poderosas e a padronização alienante que
interessa ao “mercado” incomoda.
Na área energética o petróleo criou a disposição para
guerras e falsas simpatias, o que vale é a diplomacia das bombas, canhões,
dólares e corrupção.
Energia tornou-se a voz da diplomacia e grandes projetos,
negócios, ONGs, etc.
No Brasil sentimos essa situação pesadamente, mais e mais à
medida que usamos e fazemos tudo dependendo de eletricidade, gás, gasolina,
diesel, carvão e agora até os ventos.
O clima sempre mudou. Mudanças climáticas podem explicar
transformações drásticas da Humanidade. Em torno delas a abundância ou falta de
alimentos, água, agasalhos e poder. Os efeitos do consumismo acrescentam
fatores provavelmente mortais à nossa sobrevivência (1) .
O Brasil é um país de dimensões continentais. Entre seus
extremos temos milhares de quilômetros, culturas, cenários e fontes de energia
de muitas espécies. Unir fontes de energia significa construir linhas,
oleodutos, gasodutos, estradas, hidrovias, ferrovias, portos, etc. para
transportar o que os habitantes das grandes cidades gastam sem muito critério.
Em 19 de janeiro de 2015 sentimos os efeitos dessa interdependência.
De forma abrupta, sem aviso prévio, a vida de milhões de brasileiros e empresas
foi perturbada violentamente. Qualidade, confiabilidade, segurança? Poderia ser
diferente?
Entre 1973 e 1974 desenvolvi minha dissertação de mestrado
na UFSC. Não sabia muito para que isso poderia ser útil, mas por insistência e
entusiasmo de meu orientador, o Dr. Bantval Vitaldas Baliga abracei um tema em
que trabalhava, era coordenador da comissão que implantou o “load shedding” (2) no sul do Brasil.
Dessa comissão saiu um sistema que passou a salvar os três estados (PR, SC e
RS) de blackouts (mais do que simples apagões, desligamentos totais) que antes
eram semanais, tendendo a piorar dada a fragilidade de conexão ao que agora
chamamos de Região Sudeste.
Nos estudos da época vimos que nos EUA a preocupação era
regional (parece que continua assim) e até estadual, aqui, diante do tremendo
potencial de hidroeletricidade e jazidas de carvão (de baixa qualidade) era
importantíssimo aproveitar ao máximo nossos rios e minas de combustíveis
fósseis. Assim a regionalização não era prioridade, ao contrário, a integração
nacional seria um fator de união e progresso.
E agora?
O consumo de energia elétrica cresceu exponencialmente. Megalópoles
tornam-se apavorantes quando falta eletricidade. A verticalização das cidades é
um pesadelo na falta de energia.
Novas fontes de energia renovável começam a se viabilizar.
Usar potenciais amazônicos é um desafio quase insuperável, se considerarmos os
impactos ambientais locais e a utilização dessas hidrelétricas; o resultado de
muitas usinas servindo para a produção de alumínio, siderúrgicas etc., coisas
com um potencial poluidor enorme, precisa ser considerado, assim como a
utilização abusiva do petróleo e gás.
A região sudeste do Brasil desenvolve polos urbanos e
industriais nos piores lugares, precisam crescer mais? E os cuidados? A falta
de água foi até criticada com ironia por uma autoridade internacional (3) , miopia ou burrice
dos responsáveis por aquele estado?
Não seria o caso de
se reanalisar nossas lógicas centristas, unicistas, criando condições de
autossuficiência regional em energia elétrica?
O Sul do Brasil, por exemplo, tem um potencial eólico
formidável e áreas carentes de receita própria, por quê não transformá-las em
grandes parques geradores de energia elétrica? Muitos desses locais oferecem
condições técnicas de razoáveis a ótimas para geração de energia.
E nossas cidades e usinas próximas ao litoral em áreas
elevadas, por quê não a reversão de rios em períodos de grande pluviosidade
(evitando enchentes, por exemplo)?
E as quedas de água consideradas intocáveis, já viram como
países mais inteligentes garantem imagens e soluções harmônicas?
Regiões devastadas poderiam ter parques fotovoltaicos assim
como nossas termelétricas serem aprimoradas para produzirem menos dos piores
gases (aí os herbívoros e a produção de arroz talvez sejam invencíveis).
Existem centros de P&D no sul e no resto do Brasil que
deveriam criar tecnologia brasileira, soluções tropicalizadas e daí indústrias
nacionais com rígido controle nacional de direitos de produção e de tecnologia.
Concluindo, o Brasil caminha para uma interligação e
interdependência perigosa, tanto com seus vizinhos quanto entre regiões.
Será que nossos políticos estão conscientes dessa
fragilidade? Ainda podemos reverter trajetos e soluções ingênuas.
Cascaes
1.1.2015
1. Cascaes,
João Carlos. Mirante da Sustentabilidade e Meio Ambiente e DEFESA
CIVIL . [Online] http://mirantedefesacivil.blogspot.com.br/.
2. What is load shedding? Eskom. [Online]
[Citado em: 21 de 1 de 2015.] http://loadshedding.eskom.co.za/LoadShedding/Description.
3. VALLONE, GIULIANA, Newsha Ajami. SP deve mirar curto prazo na luta
contra crise da água, diz pesquisadora. uol notícias. [Online] 18 de 1
de 2015. entrevista com a pesquisadora da Universidade de Stanford, na
Califórnia, Newsha Ajami.
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/folha-online/cotidiano/2015/01/19/sp-deve-mirar-curto-prazo-na-luta-contra-crise-da-agua-diz-pesquisadora.htm?mobile.
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