Tarifas, contas mal feitas?
As férias no Brasil são o período das maldades
governamentais. Tudo o que se quer fazer de pior começa a acontecer após o
Natal e só diminui com o final do carnaval. Depois as distrações de sempre,
talvez turbinadas por patrocinadores que sonham com a nossa passividade,
letargia, ignorância e covardia.
Estamos vivenciando essa situação, sintomaticamente o início
de mandatos e o meio de outros que precisam de dinheiro para mostrar algo
concreto antes das próximas eleições.
O que parece não existir no Brasil?
Auditagem enérgica, completa, independente e competente.
Empresas de serviços e produtos essenciais e similares
deveriam ter métodos de trabalho, qualidade técnica e custos regularmente
auditados[1]
por empresas totalmente independentes dos poderes políticos e empresariais além
das corporações de trabalhadores. No Poder Judiciário varas específicas,
principalmente para julgamento de ações contra concessionárias, fazem muita
falta. No sistema de policiamento delegacias especializadas e treinamento de
policiais padrão Polícia Federal completariam ouvidorias e órgãos de defesa do
consumidor que nem sempre escutam bem. Unindo tudo, processos rápidos e
proporcionais aos danos causados. Tudo isso é, talvez, até cruel e
aparentemente caro, mas necessário para que em ambiente democrático o cidadão
comum tenha tranquilidade ao pagar suas faturas, bilhetes, litros de
combustíveis etc.
A Operação Lava Jato demonstra o que significa uma empresa
mal auditada e o imenso prejuízo possível...
O que seria auditar em padrões de Engenharia uma
concessionária, por exemplo?
Antes de mais nada a avaliação da qualidade da base de
dados. Sem estatísticas e documentação confiáveis caímos em cálculos sem
significação, exceto enganar a “velhinha de Taubaté”[2]
ou garantir o apoio da Terta[3].
Os aparelhos de medição são aferidos (comparados com
padrões) e lacrados? Em torno de deles pode-se desviar elementos de custo
(gatos em energia elétrica, pular catracas, usar o mesmo cartão de franquia sem
critério por diversas pessoas, medições fraudadas, adulteração etc.)? qual é o
padrão de repetibilidade, robustez, inviolabilidade, etc.?
As estatísticas são fiéis? Os agentes reguladores promovem e
usam dados precisos? Sabem usá-los? Trabalham sem interferências maldosas? Foram
bem preparados para suas funções?
Os elementos de custo são reais? Os investimentos são
avaliados com precisão? manutenção? boa operação? BDI[4]?
Os sistemas de transporte de dados e manipulação podem ser
invadidos e alterados? Criou-se uma mística falsa de segurança de estruturas
eletrônicas (digitais, computadores, internet, etc.) o que hoje qualquer
usuário da WEB descobre penosamente que não é verdadeiro. Qual é o padrão de
segurança? Como acreditar em dados e fatos mal registrados ou sob vigilância
criminosa de pessoas ou grupos interessados em ganhos injustos?
Os conselhos de consumidores são eleitos pelos consumidores?
Quem e como são formados? Qual é a formação técnica dessas pessoas? Têm
privilégios? As reuniões são filmadas e divulgadas quando acontecem?
Existe uma preocupação real de atender bem? O planejamento
dessas empresas e entidades públicas e privadas está subordinado a boas
técnicas de qualidade, confiabilidade, diretrizes políticas sadias, custos
versus benefícios reais?
No Brasil temos laboratórios e profissionais formando
empresas de auditagem acima de qualquer suspeita (sem engajamento político ou
corporativo)?
Existem exemplos de ingenuidade colossal que deram prejuízos
mundiais em todos os setores, situação que surgiu com o fortalecimento do mundo
girando em torno do mercado do dinheiro e descobrimos com a devassa sobre os
privilégios de cortes podres e privilégios de elites. As grandes crises do
mundo mercantil e especulativo ocorreram em sua maioria em falências
fraudulentas e abusos de executivos criminosos. Como evitar novos desastres?
O ser humano é frágil e a garantia de honestidade e
seriedade depende de vigilância permanente. O objetivo não deve ser apenas o de
punir, mas de prevenir ações prejudiciais, principalmente de forma dolosa, algo
que parece estar começando a acontecer no Brasil.
É bom nunca esquecer que raramente os “castigos” compensam
os prejuízos.
Lamentavelmente somos obrigados a sair da tranquilidade que
desejaríamos confiando em tudo e em todos. De alguma forma demoliram boas
estruturas de planejamento, projetos, custos, construção, operação, comercialização
e, principalmente, de fiscalização. Em alguns setores talvez nunca tenham
existido.
Estamos com o risco de um retrocesso econômico gravíssimo e
nossas autoridades teimam em desmentir o óbvio, talvez porque o que está
acontecendo seja o fruto inacreditável da omissão e gestão temerária durante
décadas.
O que assusta é que fazendo declarações otimistas inibem
ações preventivas.
Pior ainda nesse início de 2015 é saber de forma até cínica,
diariamente, que tarifas sobem aos pulos, impostos mais taxas e encargos estão
crescendo além da inflação, multas criadas ao prazer das autoridades aparecem
assustando todo mundo, vamos pagar mais impostos e por aí afora.
A degradação de serviços é evidente, a falta de saneamento
básico integral é um pesadelo, não temos transporte racionalizado, sobram
crianças abandonadas nas ruas, jovens dominados por quadrilhas organizadas, a
Educação perde espaço para grupos financeiros, etc.
O espanto aumenta quando lembramos os discursos ufanistas
feitos durante esses últimos anos e durante as eleições de 2014, pode? Perdemos
de 7 a 1.
Cascaes
30.1. 2015
[1] Auditoria é
um exame cuidadoso e sistemático das atividades desenvolvidas em
determinada empresa ou
setor, cujo objetivo é averiguar se elas estão de acordo com as disposições
planejadas e/ou estabelecidas previamente, se foram implementadas com eficácia
e se estão adequadas (em conformidade) à consecução dos objetivos. Fonte
Wikipédia.
[2] A Velhinha
de Taubaté é
um personagem de humor brasileiro criado
pelo escritor e cronista Luis Fernando Verissimo, durante o governo
do general João Baptista Figueiredo (1979-1985).
Famosa por ser "a última pessoa no Brasil que
ainda acreditava no governo", como definido pelo próprio autor, Verissimo
contava que, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, sempre se pensava
antecipadamente em como a velhinha iria responder. Fonte: Wikipédia
[3] No
início dos anos 70, Chico
Anysio interpretava um personagem chamado Pantaleão,
que tinha óculos com uma lente incolor e outra preta. Ele vivia contando
"causos" mirabolantes, que ocorriam sempre no ano de 1927. Havia também a
sua esposa Terta, a qual era solicitada para confirmar a veracidade de suas
histórias mentirosas. Ele perguntava : "É mentira, Terta?" E ela
respondia: "Verdade". O Pedro Bó era interpretado por um ator
rechonchudo, quase velho, mas que fazia papel de garoto. Vez ou outra
interrompia Pantaleão com uma pergunta tola. Fonte: Wikipédia
[4] BDI (Benefícios
e Despesas Indiretas), é o elemento orçamentário destinado a cobrir
todas as despesas que, num empreendimento (obra ou serviço), segundo critérios
claramente definidos, classificam-se como indiretas (por simplicidade, as que
não expressam diretamente nem o custeio do material nem
o dos elementos operativos sobre o material — mão-de-obra,
equipamento-obra, instrumento-obra etc.), e, também, necessariamente,
atender o lucro.
Na composição do BDI acham-se, segundo os
critérios claramente definidos e de acordo com metodologia matemática
de cálculo precisamente estabelecida, os custos de (1) administração central,
em parcela rateada para o empreendimento em causa; (2) custo de capital
financeiro contraído do mercado; (3) margem de incerteza (aceitável apenas para
o contratante, em razão de este desconhecer, a priori, o cenário de
ofertantes e de ofertas disponíveis no mercado); (4) carga tributária
específica, nas várias esferas estatais) e (5) lucro (lucro bruto ou margem de
contribuição). Como se vê, todos são elementos de custo indireto.
BDI é a parcela de custo que,
agregada ao custo direto de um empreendimento, obra ou serviço,
devidamente orçado, permite apurar o seu custo total. Objetiva suportar
os custos que, conquanto não-diretamente incorridos na composição do binômio
"material versus elementos
operativos sobre o material (tradicionalmente denominado apenas mão-de-obra), todavia
incorrem também na composição geral do custo total.
Costuma-se expressá-lo em valor relativo ou percentual (mais
usual), ou por unidade (menos comum, porém muito mais útil em
análise) relativamente ao custo direto. O fato de ser assim
expresso (relativamente ao custo direto, porém de modo indireto), é uma
justificativa adicional pela qual se diz elemento de custo indireto. Contudo, a
razão própria dessa qualificação acha-se na sua composição, conforme exposto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário