quarta-feira, julho 02, 2014

Serviços Essenciais - um desafio que estamos perdendo

Tarifas e preços, serviços essenciais e mercantilismo
O destaque em torno dos serviços essenciais em nossa Constituição Federal merece louvores, apesar da centralização excessiva de atribuições em repartições federais. Sugerimos leitura, análise e estudos a partir do artigo indicado em (1) com o título “Os serviços públicos essenciais só podem ser interrompidos em condições muito especiais”, onde podemos saber muito mais de forma compacta e objetiva.
No Paraná vivenciamos um debate sobre ajustes tarifários da Copel, a empresa e o Governo do Estado culpando (2) a ANEEL[1] e ela explicando e informando que apenas cumpre suas obrigações estabelecidas em lei, cabendo ao Paraná administrar suas as tarifas das concessionárias ajustando a qualidade administrativa, atenção para detalhes formadores de custos e política fiscal. No caso da energia elétrica o peso do ICMS é mandatário, brutal, até na forma de cálculo que dissimula uma alíquota maior.
A discussão em torno da Copel é importante para nós que vivemos aqui, mas o problema é muito maior e merece uma revisão drástica do modelo institucional do Setor Elétrico que virou pasto de especulações absurdas.
Qualquer concessionária ou autarquia existem porque um processo político a criou com objetivos específicos, mas todas naturalmente subordinadas à lei maior, nossa Constituição Federal. Ao criar a figura de “serviços essenciais” os legisladores e constituintes reconheceram a importância do que suas concessionárias oferecem.
Modicidade tarifária, transparência, qualidade, confiabilidade e honestidade em todos os sentidos são inegociáveis.
Quem precisa dos serviços essenciais?
O povo em geral depende visceralmente de concessionárias; até nossas elites e grandes empresas podem ser atingidas por maus serviços, entre as reações possíveis atos violentos e revolucionários, quando o cidadão comum percebe que tudo ficou intolerável.
Falando, contudo, do que existe devemos lembrar que já tivemos em Curitiba um modelo que pode ajudar muito na compreensão do que pretendemos falar. Na administração do então Prefeito Roberto Requião o transporte coletivo viu as figuras da frota pública, receita pública, administração privada das empresas, pagamento por quilômetro, gerenciamento subordinado à PMC via URBS e fiscalização severa. Infelizmente tudo isso foi sendo desmontado, inviabilizando padrões de subsídio e racionalização da mobilidade urbana sem submissão a megaempresários.
O Setor Elétrico inexplicavelmente nesses anos de “moçada vermelha” submeteu-se a grupos econômicos poderosos e provocações irresponsáveis. Assim o Governo Federal editou, legislou e regulamentou a favor de empresas eletrointensivas, por exemplo, e deixou o mercado cativo e as empresas de distribuição de energia submetidas à sanha de comercializadoras e empreendedores miraculosos, sempre pedindo mais e mais subsídios e privilégios e colocando energia a preços crescentes, nem sempre de forma proporcional aos custos reais.
A operação do parque gerador [ (3), (4)] de energia elétrica não negociou com sua base aliada celeste, assim as chuvas não vieram bem comportadas e atrasos em obras comprometeram o Setor Elétrico, tudo isso e muito mais estão propiciando uma série de ações federais diretas e indiretas comprometendo nossas contas externas e internas.
Na energia elétrica vivemos um mundo especulativo extremamente nocivo ao Brasil, merecendo auditorias monumentais a cargo de empresas absolutamente independentes e externas a qualquer influência dos grupos de interesse que atuam em nossa terra.
É até ridículo lembrar os leilões para outorga de concessões e mais tarde a repetição de leilões para compra de energia avaramente produzida e vendida pelas usinas feitas sob concessão, tudo isso com custos e conveniências de intermediários.
O Setor Elétrico está sob um desastre financeiro que vai sendo empurrado com a barriga, afinal os patrocinadores de políticos não se interessam por ideologias e nacionalismo, o foco deles é o lucro a qualquer custo.
Infelizmente o pesadelo em torno dos serviços essenciais é geral, vai muito além da energia elétrica. A diferença é que o “clima” estabilizou após junho de 2013. Os Movimentos Sociais caminham para a cooptação federal (2) e nas próximas eleições não teremos muitas opções, dando a sensação de que o império maldito será mantido.

Cascaes
2.7.2014

1. Nunes, Rizzatto. Os serviços públicos essenciais só podem ser interrompidos em condições muito especiais. ABC do CDC. [Online] 23 de 2 de 2012. http://www.migalhas.com.br/ABCdoCDC/92,MI150460,11049-Os+servicos+publicos+essenciais+so+podem+ser+interrompidos+em.
2. Esclarecimento aos paranaenses - Copel . [Online] 28 de 6 de 2014. http://servicos-essenciais.blogspot.com.br/2014/07/esclarecimento-aos-paranaenses-copel.html.
3. Ilumina - Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico. [Online] http://www.ilumina.org.br/.
4. ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico. ONS. [Online] http://www.ons.org.br/home/.
5. Ponderações sobre mais um decreto federal mal debatido - DECRETO Nº 8.243 de 2014, Política Nacional de Participação Social. Quixotando. [Online] 16 de 6 de 2014. http://www.joaocarloscascaes.com/2014/06/ponderacoes-sobre-mais-um-decreto.html.







[1] Suspensos os reajustes tarifários de Copel-Dis, Cocel, CFLO e Ceral-Dis - 27/06/2014
Por meio do Despacho nº 2037 publicado em 26/06 no Diário Oficial da União (DOU), a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) suspendeu a aplicação dos reajustes tarifários da Copel Distribuição (Copel-Dis), da Companhia Campolarguense de Energia (Cocel), da Companhia Força e Luz do Oeste (CFLO), da Cooperativa de Distribuição de Energia Elétrica de Arapoti (Ceral-Dis) . O despacho foi motivado por recurso interposto pela Copel-Dis e a Agência decidiu conceder efeito suspensivo aos reajustes. Em razão do despacho, continuam vigentes as tarifas anteriormente praticadas.
Clique aqui para acessar o DOU. (JS)

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