quarta-feira, julho 02, 2014

O pesadelo brasileiro - serviços essenciais

Serviços essenciais – mercado, objeto de exploração ou de desenvolvimento.
O que podemos denominar serviços essenciais no Brasil nunca teve um equacionamento eficaz. Nosso país, graças ao autoritarismo de seus governantes, algo que parece inerente ao perfil brasileiro, acabou sendo, antes de mais nada, um pasto à disposição de grandes grupos econômicos, alheios aos interesses do povo brasileiro, devidamente mantido na ignorância e agora induzido a outras preocupações.
Nesses tempos de “esquerda relativa” que se iniciaram no Governo FHC e ganhou força (inacreditavelmente) com o PT gradativamente mergulhamos num garrote vil em que as concessionárias foram agentes e vítimas dos piores interesses. Isso foi do bonde de Santa Tereza à Petrobras, destacando-se nesse meio as empresas de serviços urbanos (transporte coletivo, lixo, esgoto, água potável, saúde e educação) e as nacionais, aí com sinais de abusos monumentais as empresas de telecomunicações e energia, sem falar no serviço de Correios...
Discutimos o que existe, não falamos do que deveria existir, com destaque o transporte de pessoas e cargas entre nossos estados.
Qualquer cidadão poderá até dizer que está satisfeito, pois aos poucos nos habituamos a aceitar serviços precários ou, no mínimo, muito caros e eventuais. A mídia comercial vive de propagandas caríssimas dessas empresas, iludindo brasileiros que não gostam de pensar.
A energia elétrica é a bola da vez.
O Setor Elétrico afundou em tantas aberrações que até esqueceu responsabilidades técnicas. Podemos perguntar, qual é o padrão de manutenção e correções de projeto e instalações das grandes centrais de energia? São bons? Quem pode garantir a qualidade e a confiabilidade?
O comportamento estático e dinâmico do Sistema Interligado Nacional (SIN) e das empresas de distribuição de energia é auditado por empresas competentes, sérias, honestas, acima de qualquer suspeita? Os critérios usados nos portais feitos para especialistas são suficientes, modernos, completos? Qual é a confiabilidade real? A qualidade da energia nos pontos de consumo poderia ser melhor?
Caímos na discussão rasteira de tarifas encorajando contestações irresponsáveis. No simplismo mórbido só falamos em tarifas e custos.
No Brasil muitos estados têm Secretários de Energia, o que essas secretarias fazem?
Corporações técnicas e clubes de Engenharia servem para quê?
A sensação que temos é a de que o nacionalismo é coisa perdida; um jogo de futebol mata brasileiros de paixão enquanto a sobrevivência em geral é detalhe longe dos interesses de todos.
No Paraná a Copel pediu e recebeu um tarifaço. Anunciado o pesadelo descobriram seus impactos inflacionários. Como chegamos a essa situação? Quando a Copel errou? O Governo Federal e suas repartições públicas? Os apêndices criados com a edição do modelo institucional atual servem para quê?
Não estamos sob racionamento de energia elétrica (ainda) graças aos juros altíssimos e ao travamento do desenvolvimento nacional, além da crise econômica internacional. Há uma relação bem nítida entre o PIB e o consumo de energia. Teria sido essa a motivação para a retomada do garrote agiotário?
O planejamento da expansão da oferta de energia e transmissão precisa ser feito com muitos anos de antecedência, em alguns casos mais de uma década é consumida em avaliações e compensações ambientais. O calvário para se colocar grandes parques ou centrais de geração de energia é violentíssimo. Afinal, é o momento de todos ganharem lasquinhas, devidamente turbinados por ONGs até estrangeiras e direitos legítimos.
Tarifas de serviços essenciais não poderiam em hipótese alguma serem objeto de pura e simples especulação e exploração. Se não podemos sobreviver sem saúde, segurança, energia, transporte, saneamento básico, água potável, telecomunicações etc. isso significa que os custos ao consumidor e usuário de serviços essenciais devem ser administrados estrategicamente e ponderando sempre a inevitabilidade de dois fatores: a sobrevivência saudável das concessionárias e do cidadão e empresas que dependem desses serviços (padarias, por exemplo).
Não podem ser apenas objeto de maquinações maldosas e subterrâneas de empresários e mercadores inescrupulosos.
Tudo isso exige bom governo, governantes e parlamentares realmente honestos e competentes; é uma utopia acreditar que isso seja possível? Talvez, o pesadelo não é apenas brasileiro e muita gente “boa” foi lesada no mercado persa criado pela onda neoliberal em países tradicionais.
De qualquer jeito estamos aqui, vivemos no Brasil, aqui devemos trabalhar para corrigir os excessos e evitar repetições. As eleições se aproximam, a Copa do Mundo deve terminar logo, é o momento de voltarmos à realidade e pensar no que fazer. O desafio é imenso, não será resolvido em curto prazo.
O estrago está sendo colossal. Vamos ter de pagar a conta. Merecemos?

Cascaes
2.7.2014



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