De: Adriano Benayon [mailto:abenayon.df@gmail.com]
Enviada em: segunda-feira, 16 de setembro de 2013 20:30
Para: 'João Carlos Feichas Martins'
Assunto: artigo: Reverter a entrega
Enviada em: segunda-feira, 16 de setembro de 2013 20:30
Para: 'João Carlos Feichas Martins'
Assunto: artigo: Reverter a entrega
Reverter a entrega
Adriano Benayon * -
12.09.2013
Continuam entregando
tudo. Quando se dará mais importância à realidade que ao discurso? Que se
pode fazer para reverter o presente curso de destruição do Brasil? Certamente,
não é coisa convencional.
2. Estamos diante da
entrega às petroleiras lideradas pelo cartel angloamericano das reservas de
petróleo da plataforma continental e da camada do pré-sal.
3. Também, diante do
descalabro na infra-estrutura, de que são exemplos gritantes a energia elétrica
e os transportes. Cada um desses caos nos custa trilhões de reais por ano e
decorre de sacrifícios de setores vitais no altar do falso deus mercado. Na
verdade, entregas graciosas a carteis estrangeiros.
3. Além disso, está
exposta a completa insegurança das telecomunicações, à mercê das tecnologias de
espionagem de empresas e de agências governamentais dos EUA, sem mencionar que,
desde há mais de quinze anos, quando a EMBRATEL foi entregue à
estadunidense Verizon, essa segurança pouco vale, devido à privatização tucana,
intocada pelos governos petistas.
4. Os brasileiros não
se devem iludir com discursos nem com o enviesado noticiário da grande mídia.
Tanto no petróleo, como na energia elétrica, nos transportes e nas
comunicações, o País cai para um patamar intolerável de submissão e de
degradação socioeconômica.
5. No caso do campo de Libra, da área do pré-sal, cujo
leilão a Agência Nacional do Petróleo - ANP -
quer realizar, de qualquer maneira, em 21 de outubro, apesar das
numerosas ilegalidades do edital, denunciadas ao Tribunal de Contas da União
pela Associação dos Engenheiros da Petrobrás, trata-se do maior campo já
descoberto no Mundo, com mais de 40 bilhões de barris de reservas in situ. No
mínimo, 12 bilhões de barris de reservas recuperáveis.
6. Como o preço atual do petróleo está em US$ 100 por barril, o
valor desse campo são US$ 1,2 trilhões, equivalentes a R$ 3 trilhões.
7. Ora, na medida em que a Petrobrás estará alijada do leilão,
até por ter investido para viabilizar produção em prazos menores que os
possíveis na zona do pré-sal, onde também investiu para pesquisar Libra e
outros campos, as companhias do cartel angloamericano ficam com tudo, mesmo
porque a ANP resolveu, beneficiando-as, exigir do consórcio vencedor um bônus
no valor de R$ 15 bilhões.
8. Essa quantia é ridícula comparada ao valor do campo,
mas é demasiado elevada para a Petrobrás desembolsar de uma vez, devido às
dificuldades de caixa em que foi envolvida, até por subsidiar os preços dos
derivados no País.
9. Ao contrário da propaganda governamental propícia ao cartel
angloamericano, o bônus nem constitui receita para o governo, mas tão somente
adiantamento, que devolverá em parcelas ao consórcio ganhador do leilão.
10. Ao denunciar o autoritarismo e a prepotência dos órgãos
decisórios do setor, o Eng. Paulo Metri nota que o Estado
brasileiro está loteado, e o capital internacional, no comando da energia e
mineração.
11. Provas disso e do absurdo de entregar 70% da reserva
conhecida de Libra a empresas estrangeiras são, conforme Metri: 1) elas
exportarão o óleo bruto, sem adicionar valor algum; 2) nunca contribuirão
para o abastecimento do País; 3) dificilmente contratarão plataformas no
Brasil - o item de maior peso nos investimentos; 4) não gerarão empregos
qualificados aqui; 5) não pagarão impostos, graças à lei Kandir; 6) só pagarão
os royalties e uma parcela “combinada” do lucro.
12. Cabe esclarecer sobre este último ponto:
a) os royalties, embora de, em princípio, 15%, conforme a
Lei do Pré-Sal, 12.351/2010 - maiores, portanto, que os 10%
da famigerada lei de FHC, 9.478/1997 - são, na realidade, reduzidos por
brechas criadas nas emendas do Congresso à lei de 2010; mesmo em países
sem a capacidade de exploração da Petrobrás, os royalties costumam ser, em
média, 80%;
b) a parcela combinada são os 30% a que Petrobrás faz jus,
de acordo com a Lei 12.351/2010, a qual, desde a proposta do ex-presidente
Lula, garante à Petrobras a condição de operadora única, com 30% do resultado,
ficando, porém, os 70% para o ganhador do leilão, no caso o cartel estrangeiro,
sem correr riscos.
13. O atual governo não aplica em favor do País o que deve
decorrer das leis do Pré-Sal, deixando de fazer cessão onerosa do campo de
Libra à Petrobrás, conforme a Lei nº 12.276/2010, e agindo como caudatário dos
interesses anglo-americanos, mesmo ciente da espionagem de agências
públicas dos EUA, como a NSA e a CIA, tendo como alvos o petróleo e o pré-sal.
14. O Eng. Fernando Siqueira lembra que, já no 11º leilão, a
Petrobras teve participação pífia, tendo comprado menos de 20% das áreas
ofertadas e sendo operadora só em 3 delas. Como essas áreas não são
do pré-sal e se regem pela Lei 9.478/1997, todo o petróleo fica para quem
ganhou o leilão.
15. Acrescenta: “Creio que, propositadamente, exauriram a
capacidade financeira da Petrobras com leilões desnecessários, pois o país está
abastecido por mais de 40 anos. A partir da 11ª rodada, o capital
internacional irá sempre ganhar vários blocos, graças a plano maquiavélico com
aprovação do governo do Brasil.”
16.
Ainda conforme Siqueira, o governo está abrindo mão de parte da parcela
destinada ao Fundo Social. Também troca lucros de centenas de bilhões de
dólares por um oneroso empréstimo de quantia irrisória.
17. Siqueira esclarece que a Petrobrás tem previsão de produzir
4 milhões de barris em 2020, e não, há, pois, necessidade alguma de leiloar o
pré-sal. Menos ainda, nas condições altamente danosas ao País, em que está
sendo feito.
18. A 11ª rodada de leilões, já realizada, e a 12ª,
marcada para breve, implicam amarrar o Brasil à condição de país sem
autodeterminação, definitivamente inviabilizado para o desenvolvimento,
condenado a exportação primária e poluente, controlada pelas transnacionais do
petróleo e rendendo-lhe vultosas divisas que as farão suplantar as
automotivas no posto de donas do País.
19. Outras consequências: agravar a desindustrialização, a
concentração de renda nas mãos da oligarquia estrangeira e marginalizar
mais brasileiros.
20. O que ocorre com o petróleo basta, por si só, para afundar o
Brasil. Ao mesmo tempo, a derrocada do País é puxada pelo que acontece na
infra-estrutura.
21. O setor da energia elétrica está deteriorado, com frequentes
apagões - num país de excelente potencial de fontes. Grande parte
dos insuficientes investimentos é desperdiçada e são cobrados preços extorsivos
aos usuários (exceto às privilegiadas eletrointensivas).
22. Deliberadamente, desde FHC, deu-se espaço às absurdas e
caras usinas térmicas, subinvestindo e investindo mal na hidroeletricidade, sem
aproveitar plenamente a capacidade das bacias hídricas, nem construir
eclusas (prejudicando também a navegação fluvial).
22. O setor elétrico exemplifica a grande fraude das concessões
e privatizações, realizadas para proporcionar ganhos a predatórias
empresas financeiras, através de supostos leilões (sempre a ficção
do mercado) sob critérios abstrusos, para ninguém entender.
23. Conforme dados da ANEEL, mostrados pelo Eng. Roberto
d’Araújo, os componentes, em percentuais, do preço da energia são:
geração 31,3%; transmissão 6,3%; distribuição 29%; tributos 33,5%.
24. Há abusos incríveis em todas essas etapas. As
empresas de distribuição concentram a maior parte dos lucros, tendo o
economista Gustavo Santos verificado que a rentabilidade média delas sobre o
patrimônio líquido superou 30%, ou seja, 700% em oito anos.
25. Esclarece d’Araújo
que o governo, sem coragem para enfrentar os próprios erros e as
distribuidoras, resolveu atacar a parcela produtiva. Em suma, está sendo
completada a destruição da Eletrobrás - mais um pilar do projeto de
Getúlio Vargas derrubado a mando do império angloamericano.
* - Adriano Benayon é doutor em economia e
autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário