UUm bom momento para análises e ajustes técnicos – o risco de
racionamento
O perigo do Brasil vir a ter mais apagões e o temível
racionamento está de volta por diversas razões que merecem discussão honesta,
profunda e democrática, pois ninguém é dono da verdade. Quando nos expressamos
mostramos opiniões e conclusões do que sabemos, mas o universo de situações que
nos levou a essa situação não é de domínio público, nem nossa Presidenta o
conhece bem, pelo que sentimos ao notar que ela se posiciona mal diante dos
questionamentos feitos.
Em primeiro lugar é bom falar de risco, probabilidade de
falhar, faltar, de acontecer algo ruim. O Setor Elétrico é extremamente
complexo, está permanentemente sujeito a riscos de desligamentos e até de
racionamentos, com ou sem chuvas. Qual é a probabilidade de acontecer algo
ruim? Tudo depende da dependência de poucas fontes de energia, grandes linhas
de transmissão, subestações complexas e recursos que possam minimizar os
efeitos, como, por exemplo, bons profissionais distribuídos pelo sistema e
preparados para agir de forma adequada.
O fator humano é essencial ao bom atendimento dos
consumidores. Quando pessoas incompetentes, ineptas ou mal intencionadas
assumem cargos de comando é muito difícil acreditar que teremos a otimização de
qualquer empresa, serviço ou produto. Infelizmente quem escolhe os dirigentes
das grandes concessionárias de serviços essenciais raramente tem a intenção de
promover pessoas excelentes. O principal objetivo de quem pode decidir é o
lucro máximo, a demagogia, ou simplesmente facilidades que os inquéritos da
Polícia Federal estão mostrando.
O Brasil é um país gigante com muitos recursos energéticos.
Felizmente não temos as facilidades de estar sobre mares de petróleo, o que
exige o desenvolvimento de profissionais e muita competência para podermos
aproveitar facilidades que exigem competência técnica, social e política para serem
exploradas.
Nesse início de ano, por exemplo, as usinas do Rio Madeira poderiam
estar sendo conectadas ao Sistema Interligado Nacional, SIN, o que faria risível
qualquer preocupação com racionamentos. O sistema de transmissão, complexo,
longo e cheio de armadilhaspara o que está previsto poderá atrasar. O sequenciamento de obras desprezou a segurança dos grandes centros de carga nacional. Isso é natural num
projeto dessa espécie, com interferências políticas estranhas aos interesses de
nosso povo.
De qualquer forma é bom lembrar que outros, mais simples,
demoraram anos parados até que resolvessem os erros encontrados, como, por
exemplo, as duas últimas máquinas da Usina de Itaipu.
Nossa Presidente, economista por formação, deve ter
dificuldades de entender o que se passa. Em sua vida profissional e política
ocupou muitos cargos, mas começou por cima. Nunca trabalhou em grandes
instalações ou projetos complexos de Engenharia, deve estar aturdida com os
efeitos de suas decisões, inclusive o patético tom ditatorial, como se quisesse
dar ordens à natureza e às incertezas industriais e de empreendimentos de
grande porte.
Optou por favorecer as eletrointensivas. Vamos facilitar a
exportação de lingotes de alumínio e outras coisinhas dessa espécie. A
racionalização do uso da eletricidade não dá voto nem dólares imediatos. É bom
lembrar que dentro do cenário tropical brasileiro poderíamos investir muito em
pesquisa, desenvolvimento de soluções e correções de erros que vão da
arquitetura a urbanismo, produtos e serviços.
Estamos numa situação delicada por diversas razões e não
simplesmente porque as chuvas atrasaram. O Brasil, apesar de crescer a passos
de cágado, está chegando a limites perigosos. Isso teria sido evitado se,
talvez, com mais humildade nossos mandatários se dispusessem a discutir com a
sociedade civil organizada e experiente o que seria necessário corrigir.
O espírito autoritário é necessário quando é importante
derrubar grupos poderosíssimos, como aconteceu em torno dos juros absurdos que
eram praticados no Brasil. A Presidenta, em sua seara profissional soube
derrubar essa barreira ao nosso desenvolvimento. Outras existem, extrapolando
sua formação acadêmica.
Agora é o momento dos profetas do passado. Inacreditavelmente
notamos o silêncio de entidades que deveriam estar se manifestando
intensivamente. Onde estão? Foram cooptadas? Estão satisfeitas com seus
privilégios?
Energia eólica, um dos temas citados insistentemente. O
Brasil tem um imenso potencial nessa área, mas viabilizá-la artificialmente por
meio de incentivos fiscais e subsídios é colocar uma opção na balança de modo
camuflado. Devemos analisar cada oportunidade de geração de energia elétrica
com honestidade intelectual e sem esquecer detalhes, como, por exemplo, a
fragilidade de instalações novas e antigas, essas, as mais velhas, com projetos
que deveriam ser revistos radicalmente.
O aspecto positivo partiu de reportagens incrivelmente bem
feitas pela Rede Globo, uma empresa capaz de balançar convicções pela
capilaridade de suas reportagens. Domingo, no Fantástico, soubermos de inúmeras
coisas assustadoras; nós, do Setor Elétrico e mais experientes, poderíamos
acrescentar mais informações, talvez piores do que foi apresentado. O lado
televisivo, contudo, foi importante: obras paradas, mal feitas, superfaturadas
de acordo com o TCU. A velha rotina brasileira...
A energia mais barata e que velozmente dá resultados é a
conservação de energia. Deveríamos estar vendo diariamente nos principais meios
de comunicação conselhos de como evitar o desperdício de energia (elétrica,
gasolina, óleo, gás etc.). Ao contrário, existe um esforço do Governo Federal
para estimular o consumo perdulário de energia quando força tarifas baixas, emite
MPs prometendo o impossível e se escora na opinião de quem não pode
contrariá-lo ou não estão preocupado com os maus resultados que tudo isso
poderá causar.
Isso é Brasil.
Cascaes
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