A falta de eletricidade em casa, no trabalho, lazer, culto
etc. é uma situação que se percebe de imediato. A intensidade dos efeitos será sentida
se isso significar racionamento, apagão ou defeitos em instalações próprias. Em
todos os casos é algo que preocupa e justifica cuidados especiais.
Como é atribuição federal, de acordo com nossa Constituição
federal, olhamos o Governo distante, em Brasília, na obrigação de zelar para
que tenhamos continuidade de um serviço essencial, inclusive a outras
atividades tão importantes quanto o saneamento básico, abastecimento de água
potável, serviços de saúde, segurança, etc.
Os efeitos de um racionamento são violentos, infinitamente
piores que os prejuízos de um apagão. Maravilhosamente o Brasil tem uma base
ainda substancial de usinas hidroelétricas, o que facilita enormemente a
recomposição do sistema quando ele cai por efeito de raios e/ou falhas humanas.
Fosse termoelétrico a complicação e o tempo de recomposição seriam muito maiores.
Racionamentos significam fragilidades que assustam
empreendedores e param indústrias, empresas de todo porte exceto aquelas que
tiverem capacidade de produzir a energia que precisarem. Desemprego é um efeito
direto da dimensão do período que durar a limitação de consumo de energia.
Exatamente em consequência da enorme gravidade de um
racionamento o planejamento da expansão da oferta de energia assim como a
vigilância firme do que é feito é uma condição justa e necessária em países que
estão em fase de crescimento, desenvolvimento que pode acontecer de diversas
formas, todas elas, contudo, precisando de muita energia.
O consumo de energia pode e deve ser qualificado,
quantificado e disciplinado. O desperdício é um crime, pois tanto a utilização
de combustíveis quanto a produção através de fontes renovável têm custos
ambientais. O planejamento da expansão do sistema de produção, transmissão,
geração e distribuição de energia demandam muitos anos para ser adequado às
necessidades da nação. A complexidade de um bom planejamento é grande, mais
ainda num país que anda e para com frequência.
Energia e sua utilização precisam de critérios estratégicos técnicos
e não eleitoreiros. O Poder Político deve e é sua atribuição definir
diretrizes, mas as decisões técnicas precisam ser embasadas em análises
específicas, cuidadosas e competentes.
Isso vale para qualquer tipo de energia. A reportagem (Obra de usina no RS está parada há 25 anos, 2013) mostra refinarias
atrasadas e custando muito mais do que foram orçadas, isso sem contar com
atrasos na hora da partida, da colocação em operação. Foram bem projetadas? Quem
são os responsáveis por tantos erros?
Até na indústria naval encontramos problemas que preocupam
demais (Transpetro e EAS entram em acordo sobre navios
petroleiros , 2012); o que está acontecendo com a
Petrobras?
Estranhamos a preocupação do Governo Federal com as
montadoras, por exemplo, quando é na micro e pequena empresa que está o
verdadeiro Brasil, empreendedor e carente de atenção de nossos governantes. Além
disso, milhões de postos de trabalho seriam criados rapidamente se o Governo
Federal viabilizasse a reforma de nossas cidades atrasadas e poluentes, cruéis
e degradadas [(Brasil 2050), (Cascaes, Cidade do Pedestre)].
Com certeza, na alienação em que fomos criados dá mais voto
exibir grandes galpões cheios de robôs produzindo carros que depois irão
entupir e poluir as cidades.
Incentivos errados, pesadelos garantidos.
Os efeitos podem ser grandes e não serem percebidos
adequadamente, como, por exemplo, facilitar a compra de automóveis e deixar
prefeituras sem dinheiro para acolher esses veículos, eventualmente sem
recursos até para a manutenção do transporte coletivo urbano, que aumenta seus
custos em cidades “engarrafadas”.
Vimos, nesse momento de grandes preocupações com a energia
elétrica, uma reportagem do Fantástico excelente (Obra de usina no RS está parada há 25 anos, 2013) onde, além da
termoelétrica parada há 25 anos, descobrimos detalhes absurdos de refinarias,
parques eólicos e linhas de transmissão atrasados ou parados. Até parece que o
Brasil é um país riquíssimo, podendo desperdiçar o dinheiro do contribuinte e
do usuário a energia, pois a conta vai por aí.
Mais ainda, o cheiro de corrupção é perturbador, corrupção
colossal que o TCU procurou conter. O sentimento de poder dos responsáveis
pelas obras com indícios de superfaturamento é tão grande que até desprezaram
os alertas do Tribunal de Contas da União...
Nossa Presidenta queria facilitar exportações, reduzir
custos da energia e sabe-se lá o que mais. Conseguiu criar um tremendo pânico
entre concessionárias, governantes com menos dinheiro nos cofres estaduais e
municipais e um ambiente de dúvida em relação ao processo democrático. A MP 579
[ (As Incoerências da MP 579), (MP 579 -
MEDIDA PROVISÓRIA Nº 579, DE 11 DE SETEMBRO DE 2012.)] demonstrou que por
arbitrariedade sumária do Poder Concedente Federal as regras do jogo mudam
dramaticamente de um dia para o outro. Para quê isso? Fogo amigo? Demonstração
de autoridade?
Outro aspecto tenebroso desses últimos meses está na
contradição do discurso da Presidenta Dilma Rousseff querendo baixar os custos
da eletricidade, chegando a editar uma Medida Provisória, e o cenário
energético que impõe a entrada em operação de todas as fontes mais caras de
energia na base (ONS prevê gasto maior com geração térmica este ano) superando o teto
atingido em 2011, ou seja, um ano que vinha mal e não foi pior em termos de
eletricidade porque o crescimento da economia brasileira foi ridículo. A
contradição assusta, pois demonstra um nível de ignorância que uma ex Ministra
das Minas e Energia não deveria ter.
É bom lembrar que os reservatórios das hidroelétricas fazem
o papel do tanque dos automóveis. Se estiverem vazios, por maior que seja a
potência do motor, o carro não andará. Mais ainda, o SIN precisa de maior
capacidade de transmissão para aproveitar melhor qualquer período de chuvas
fortes em qualquer uma das regiões brasileiras, parece que até nisso estamos
mal.
Com certeza os prepostos da Presidenta tentam amenizar
críticas, o que é ruim. Se nosso povo tiver noção mais exata do que está
acontecendo poderá prevenir-se, instalando, por exemplo, em prédios altos e
instalações estratégicas geradores a diesel, infelizmente.
O Governo Federal errou e muito. Na hora inadequada, de
forma incorreta mexeu com um serviço essencial que demanda permanentemente
grandes investimentos e é vital ao Brasil.
Note-se que o aumento do consumo é diretamente proporcional
ao PIB e no Brasil essa correlação está em torno de 1,4%, elevada, pois nossa grande
indústria é de modo geral primária e eletrointensiva.
Sente-se que nossos planejadores são ótimos para formatar
desculpas e lentos na avaliação de suas decisões. Muito do que vimos na
reportagem do Fantástico já estaria exigindo que ANEEL, EPE e Ministério das
Minas e Energia arregaçassem as mangas para a colocação em serviço de
instalações paralisadas ou mal conduzidas.
De tudo isso só temos uma certeza: vamos pagar as contas.
É bom rezar, orar, fazer promessa etc. para que não tenhamos
outro racionamento, aí os prejuízos serão muito maiores, inclusive para os
planos políticos de muita gente ainda forte.
Cascaes
7.1.2013