segunda-feira, novembro 26, 2012

Renovação das concessões no setor elétrico – argentinação?



O inferno está cheio de gente de boas intenções, é um dito popular de extrema sabedoria.
A Argentina paga agora os erros do passado, quando o Governo decretou o congelamento de tarifas, inviabilizando projetos, inclusive destruindo projetos de aproveitamento do gás argentino e dando-nos um imenso prejuízo, havíamos feito grandes investimentos para trazer energia de lá a partir de termoelétricas.
Com certeza, se a oposição política argentina tivesse uma liderança forte essa incompetência seria cobrada com mais eficácia. Eles adoram o tango, a música é linda, já a dança materializa preconceitos que ilustram bem nossos Hermanos...
No Brasil, a crise internacional fez o Governo Federal escolher o Setor Elétrico como instrumento de redução de custos. Inesperadamente lançou mais uma das famigeradas Medidas Provisórias (579) e usando direitos equivocados criados pela Constituição Federal poderá matar um serviço que funcionava razoavelmente, sobrecarregado absurdamente de impostos que não eram seletivos de forma razoável e vigiados por uma agência reguladora cheia de DAS e ainda criando seus quadros próprios. O contingenciamento de verbas desde a criação das agências matou essas entidades assim como a interferência política em questões técnicas (vide a ANA).
Com certeza setores industriais bem instalados nessa simbiose maldita (cartéis, monopólios camuflados, estruturação em Brasília etc.) aplaudem essa medida, pois reduz seus custos, mas ela poderia ser diferente, valorizando atividades que nos interessam para um progresso sustentável e promovendo a racionalização do uso da energia elétrica, inclusive forçando a exportação de produtos com maior valor agregado.
Nossa infraestrutura rodoviária não suporta mais tanto caminhão carregando “commodities” (como dizem os economistas afetados) de pouquíssimo valor para sustentar animais, gente e indústrias distantes, quando poderíamos vender com menos volume e mais preço artigos muito mais valiosos e essenciais aos gringos.
A Medida Provisória dedicada à renovação das concessões do Setor Elétrico pretende aumentar a competitividade da indústria brasileira, ótimo! Seria bom se viesse acompanhada de outras sobre o direito de exploração de minérios, por exemplo, e revisse atribuições dos estados brasileiros. A União, na confusão dos constituintes de 1988, têm poderes excessivos, decidindo até a tomada que usamos e a distribuição de insumos que deveriam ficar para deliberações e poderes regionais.
O Brasil é grande demais para os jogos políticos de Brasília.
Isso não quer dizer que nos estados os poderosos têm poder excessivo, ao contrário, mas é justo que possamos viver mais próximos daqueles que decidem sobre a nossa vida. Reclamar em Brasília é muito caro e impossível para a imensa maioria dos brasileiros.
A discussão em torno da MP 579  (As Incoerências da MP 579) vai muito além do que diz o artigo citado.
A renovação de concessões é uma tremenda oportunidade de corrigir os termos de concessão exigindo ajustes em usinas e linhas de transmissão e distribuição que a evolução técnica e a ambiental agora apontam como necessária, assim como o uso múltiplo das águas e maior segurança dessas instalações. O Governo Federal está preparado para isso? Tem consciência do que está fazendo?
Infelizmente dormimos em berço esplêndido nesses anos todos e só as empresas eletrointensivas e mercadores de energia souberam trabalhar. É natural, podem pagar bons lobistas, consultorias e fazer eventos pomposos. O Congresso Nacional é o que todos sabem o que é, algo a serviço do poder de plantão, procurando os ambicionados cargos da hiperpoderosa República do Brasil.
Agora é hora de nossos representantes corrigirem comportamentos e aprofundarem a análise dessa MP discutindo-a com todos, e não apenas com os interessados e gastar menos com energia. A eletricidade, por exemplo, é vetor de impostos, principalmente do ICMS.
Acontece que os estados e municípios precisam de muito dinheiro para a Educação, Saneamento Básico, reurbanização Inclusiva, Saúde etc.. A mudança promovida pela MP 579 é repentina e deve ser discutida com governadores e prefeitos além de, via mídia e internet, criar um ambiente de análise profunda. A transparência é fundamental e o tempo importante. Não podemos esquecer que as férias vêm aí, quando até nossos heróis se dão ao direito de esquecer o Brasil e seu povo mais humilde, principalmente.
Propostas?
Vão desde a revisão dos prazos até a legislação fiscal, passando pela operação segura de barragens imensas, redução do risco de enchentes, poluição e recuperação de reservatórios assoreados.  A sensação que dá é que os autores da MP 579 nunca trabalharam em manutenção de usinas e agem como se fossem advogados de causas milionárias e contadores fazendo continhas.
Tivemos progressos imensos no Governo Dilma, mas certos modelos latino-americanos parecem encantar o Planalto.
Infelizmente costumamos pensar no curto prazo, não temos planejamento e amamos pão e circo. Nesse contexto, reforçado pelas praias, preocupa-nos imensamente o açodamento existente. Se existe algo que evoluiu foi o Setor Elétrico, apesar da visão estreita de alguns. Seria lamentável se tudo o que aconteceu virasse um caldeirão de interesses escusos ou irresponsáveis.
Naturalmente muitos já aprenderam a ganhar dinheiro com a nossa alienação, e agora o palco está armado para eles.
Outros só esperavam a oportunidade para se lançar neste botim.
E agora José?
Teremos energia com qualidade, discernimento e segurança ou vamos depender de ações truculentas como estamos vendo na Argentina onde o excesso de esperteza da era Domingo Cavalo colocou os argentinos de quatro e no escuro?
Ou a ideia é a privatização das concessionárias na “bacia das almas”?

Cascaes
26.11.2012






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