Renovação de concessões, evolução ou regressão técnica
Estamos em período de renovação de concessões federais. Será
que o caminho escolhido é o melhor?
Vemos nesse episódio um dos piores defeitos da Constituição
de 1988, o excesso de poder em Brasília, onde grandes grupos econômicos e o
sentimento ditatorial que dominava grande parte dos deputados e senadores criou
um documento centralizador e de fácil manipulação pelos donos das chaves dos
cofres da União, assim como a possibilidade de manipular leis e decretos ao
gosto dos patrocinadores de campanha.
A seguir, o espírito neoliberal entrou em cena após a
derrocada da União Soviética, o festival foi total na regulamentação das leis
existentes. Tudo era motivo de Bolsa de Valores (especulação) e negócios nem
sempre visíveis.
A sensação que temos é essa observando a evolução das leis
que regem a geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, sem falar
de outras onde o que se diz é muito pior.
Agora, por exemplo, quando a renovação das concessões
poderia ser aproveitada para ajustes importantes a favor de nosso povo os
vencedores são empresas que exportam energia na forma de lingotes, produtos
semi-acabados e outros, podendo ganhar mais se reduzirem as tarifas.
O ideal seria fazer ferrovias, bons portos, estradas, silos,
apoio tecnológico, escolas técnicas etc., mas para que esperar se podem ganhar
dinheiro já, inda que expondo a nação a grandes acidentes?
ANEEL? Uma repartição pública em Brasília formada por
pessoas com diplomas, sem experiência real, vai fazer o quê? Aplicar multas?
Participar de auditorias técnicas ao gosto da mídia e seus chefes?
No Setor Elétrico poderíamos aproveitar a maior rentabilidade
para aprimoramento de serviços, correção de erros de projetos, novas funções e
racionalização da utilização da energia elétrica e da água, quando
hidrelétricas. Parece-nos que tudo se encaminha no sentido contrário.
Principalmente as grandes estatais, aquelas mais
competentes, deveriam poder capitalizar seus estados e aparecerem como
parceiras em projetos estruturais, que por sua vez , assim agindo, estariam
reduzindo o “custo Brasil”. Talvez a Presidência da República não confie nos
governadores ou tema o sucesso de suas administrações...
As tarifas realmente poderiam ser menores a critério do
Governo, independentemente de quem fosse o responsável pela empresa de energia
elétrica. A quantidade de impostos sempre permitiu que se elevasse ou baixasse
o preço da energia, tanto elétrica quanto as demais. Talvez para esconder isso
batem em questões contábeis e conceitos comerciais esquecendo a tremenda
responsabilidade que é a gerência de grandes usinas de energia elétrica,
subestações e linhas de transmissão.
Participamos desde o início da formação das equipes de
geração da COPEL assim como acompanhamos grandes empresas (CEMIG, ELETROSUL<
CESP< ELETROBRAS etc.) e sentimos na pele o que significava entender e domar
desde pequenas até grandes centrais hidroelétricas (por exemplo), além de
saber, depois de prontas, o que poderia ter sido diferente. Afinal como diretor
e presidente da empresa COPEL vivi discussões importantes e até confidenciais
sobre o que existia.
Usinas pagas e alta rentabilidade das concessionárias? Ótimo!
No Paraná a holding COPEL poderia participar de inúmeros
projetos de interesse do estado, é travada, contudo, por uma legislação feita
ao gosto e prazer de estados importadores de energia e os eternos especuladores.
O Poder Concedente (infelizmente é a União) poderia ter
negociado correções técnicas e serviços adicionais, mas, atendendo o lobby das
eletrointensivas direciona-se simploriamente para uma situação complexa e
extremamente perigosa.
Talvez nosso povo não saiba o que possa acontecer, com
certeza nunca viu uma grande barragem romper-se. O racionamento de eletricidade
é outra possibilidade possível no caos provável e não haverá cara feia ou multa
capaz de evitá-lo se o Setor Elétrico continuar perdendo seus grandes especialistas
em PDVs irresponsáveis e descapitalizando-se para o que precisa fazer. Depois
das catástrofes o que resta é aplicar multas, as perdas são, via de regra,
muito maiores.
O Setor Elétrico aprendeu muito com o último grande
racionamento, parece, contudo, que o Governo Federal esqueceu as lições.
Infelizmente diante de tantas notícias ruins e outras
apaixonantes o povo despreza questões técnicas. Prefere ver sangue a suor.
Temos exemplos óbvios de exigências que poderiam ser feitas,
tais como cobrar das concessionárias, de imediato, um acordo para
racionalização de redes de distribuição mal feitas, aéreas e degradadas como
acontecem em Curitiba. Aqui, desde os passeios até os fios sobre nossas
cabeças, sem esquecer as tubulações existentes de água, esgoto e drenagem de
águas pluviais, tudo poderia ser refeito em consórcio e as concessionárias
assumirem calçadas que os proprietários de imóveis ingenuamente cuidam e
mantêm, possibilitando uma reurbanização inclusiva e atualização de instalações
essenciais à segurança de todos nós.
O que vemos, contudo, são leilões para concessão, criando-se
um autêntico imposto camuflado sobre a exploração de serviços essenciais.
Estatais ou privadas?
Nada indica que uma seja melhor do que a outra do ponto de
vista gerencial, mas as grandes empresas estatais podem ser fortes
alavancadoras de investimentos, desde que seus controladores tenham competência
e honestidade para agir de acordo com os interesses de seus eleitores.
O desespero é descobrir as palavras para denunciar o que
está acontecendo. Sabemos que pagaremos caro por essa irresponsabilidade. Não
queremos ser amanhã a Argentina de hoje e precisamos deixar de tratar com tanto
carinho exportadores de produtos baratos graças à energia que pagamos caro,
dando a eles privilégios excepcionais.
Afinal, se existe mercado livre de energia, não deveria
sê-lo para todos os brasileiros? Assim teríamos uma referência real dos custos,
riscos e vantagens de algo que querem a todo custo transformar em mercado de
“commodities” em benefício de empresas privilegiadas e gastadoras de energia, a
favor de empresários que abandonarão a racionalização desse produto.
Pelo que vimos e ouvimos até agora caminhamos para a
desorganização de um sistema de geração e transmissão que já foi modelar,
apesar dos imensos desafios enfrentados à época. Os apagões estão mostrando os
efeitos de novos conceitos gerenciais sobre as empresas, critérios bonitinhos,
mas ordinários.
O que nisso tudo incomoda é o silêncio da mídia, será que
foi induzida a silenciar sobre um tema tão estratégico quanto este?
Existem momentos extremamente importantes que passam sem
discussão adequada, esse é um deles sobre medidas provisórias, leis, decretos,
normas e os desafios das renovações de concessões extremamente importantes.
Cascaes
3.11.2012
Muito bom. Você continua, Cascaes, pensando ´fora da caixa`.
ResponderExcluirParabéns!!