quarta-feira, janeiro 09, 2013

Um bom momento para análises e ajustes técnicos – o risco de racionamento




UUm bom momento para análises e ajustes técnicos – o risco de racionamento
O perigo do Brasil vir a ter mais apagões e o temível racionamento está de volta por diversas razões que merecem discussão honesta, profunda e democrática, pois ninguém é dono da verdade. Quando nos expressamos mostramos opiniões e conclusões do que sabemos, mas o universo de situações que nos levou a essa situação não é de domínio público, nem nossa Presidenta o conhece bem, pelo que sentimos ao notar que ela se posiciona mal diante dos questionamentos feitos.
Em primeiro lugar é bom falar de risco, probabilidade de falhar, faltar, de acontecer algo ruim. O Setor Elétrico é extremamente complexo, está permanentemente sujeito a riscos de desligamentos e até de racionamentos, com ou sem chuvas. Qual é a probabilidade de acontecer algo ruim? Tudo depende da dependência de poucas fontes de energia, grandes linhas de transmissão, subestações complexas e recursos que possam minimizar os efeitos, como, por exemplo, bons profissionais distribuídos pelo sistema e preparados para agir de forma adequada.
O fator humano é essencial ao bom atendimento dos consumidores. Quando pessoas incompetentes, ineptas ou mal intencionadas assumem cargos de comando é muito difícil acreditar que teremos a otimização de qualquer empresa, serviço ou produto. Infelizmente quem escolhe os dirigentes das grandes concessionárias de serviços essenciais raramente tem a intenção de promover pessoas excelentes. O principal objetivo de quem pode decidir é o lucro máximo, a demagogia, ou simplesmente facilidades que os inquéritos da Polícia Federal estão mostrando.
O Brasil é um país gigante com muitos recursos energéticos. Felizmente não temos as facilidades de estar sobre mares de petróleo, o que exige o desenvolvimento de profissionais e muita competência para podermos aproveitar facilidades que exigem competência técnica, social e política para serem exploradas.
Nesse início de ano, por exemplo, as usinas do Rio Madeira poderiam estar sendo conectadas ao Sistema Interligado Nacional, SIN, o que faria risível qualquer preocupação com racionamentos. O sistema de transmissão, complexo, longo e cheio de armadilhaspara o que está previsto poderá atrasar. O sequenciamento de obras desprezou a segurança dos grandes centros de carga nacional. Isso é natural num projeto dessa espécie, com interferências políticas estranhas aos interesses de nosso povo.
De qualquer forma é bom lembrar que outros, mais simples, demoraram anos parados até que resolvessem os erros encontrados, como, por exemplo, as duas últimas máquinas da Usina de Itaipu.
Nossa Presidente, economista por formação, deve ter dificuldades de entender o que se passa. Em sua vida profissional e política ocupou muitos cargos, mas começou por cima. Nunca trabalhou em grandes instalações ou projetos complexos de Engenharia, deve estar aturdida com os efeitos de suas decisões, inclusive o patético tom ditatorial, como se quisesse dar ordens à natureza e às incertezas industriais e de empreendimentos de grande porte.
Optou por favorecer as eletrointensivas. Vamos facilitar a exportação de lingotes de alumínio e outras coisinhas dessa espécie. A racionalização do uso da eletricidade não dá voto nem dólares imediatos. É bom lembrar que dentro do cenário tropical brasileiro poderíamos investir muito em pesquisa, desenvolvimento de soluções e correções de erros que vão da arquitetura a urbanismo, produtos e serviços.
Estamos numa situação delicada por diversas razões e não simplesmente porque as chuvas atrasaram. O Brasil, apesar de crescer a passos de cágado, está chegando a limites perigosos. Isso teria sido evitado se, talvez, com mais humildade nossos mandatários se dispusessem a discutir com a sociedade civil organizada e experiente o que seria necessário corrigir.
O espírito autoritário é necessário quando é importante derrubar grupos poderosíssimos, como aconteceu em torno dos juros absurdos que eram praticados no Brasil. A Presidenta, em sua seara profissional soube derrubar essa barreira ao nosso desenvolvimento. Outras existem, extrapolando sua formação acadêmica.
Agora é o momento dos profetas do passado. Inacreditavelmente notamos o silêncio de entidades que deveriam estar se manifestando intensivamente. Onde estão? Foram cooptadas? Estão satisfeitas com seus privilégios?
Energia eólica, um dos temas citados insistentemente. O Brasil tem um imenso potencial nessa área, mas viabilizá-la artificialmente por meio de incentivos fiscais e subsídios é colocar uma opção na balança de modo camuflado. Devemos analisar cada oportunidade de geração de energia elétrica com honestidade intelectual e sem esquecer detalhes, como, por exemplo, a fragilidade de instalações novas e antigas, essas, as mais velhas, com projetos que deveriam ser revistos radicalmente.
O aspecto positivo partiu de reportagens incrivelmente bem feitas pela Rede Globo, uma empresa capaz de balançar convicções pela capilaridade de suas reportagens. Domingo, no Fantástico, soubermos de inúmeras coisas assustadoras; nós, do Setor Elétrico e mais experientes, poderíamos acrescentar mais informações, talvez piores do que foi apresentado. O lado televisivo, contudo, foi importante: obras paradas, mal feitas, superfaturadas de acordo com o TCU. A velha rotina brasileira...
A energia mais barata e que velozmente dá resultados é a conservação de energia. Deveríamos estar vendo diariamente nos principais meios de comunicação conselhos de como evitar o desperdício de energia (elétrica, gasolina, óleo, gás etc.). Ao contrário, existe um esforço do Governo Federal para estimular o consumo perdulário de energia quando força tarifas baixas, emite MPs prometendo o impossível e se escora na opinião de quem não pode contrariá-lo ou não estão preocupado com os maus resultados que tudo isso poderá causar.
Isso é Brasil.

Cascaes
9.1.2013




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