quinta-feira, setembro 13, 2012

Editais para outorga de concessões


Editais para outorga de concessões
O inferno está cheio de pessoas com boas intenções. Se nesses tempos de democracia relativa tivéssemos bons legisladores, gente com alto grau de instrução e caráter, políticos que poderiam ter mudado o Brasil para melhor, estaríamos navegando em mares tranquilos, apesar das privatizações de empresas estatais e licitação de concessões estratégicas. Isso não aconteceu e agora amargamos serviços ruins e caros sem poder reagir de forma adequada. Quanto maiores forem as empresas, mais dinheiro terão para cooptar profissionais e políticos que tenham preço, ainda que elevado. É mais barato corromper do que prestar bons serviços. Nosso povo não reage, reclama para seus botões (Arias, 2011). O medo é a reação dos poderosos chefes de quadrilhas (Amorim, 2012), sempre dispostos a atitudes radicais sabendo que terão capangas que poderão eliminar ou intimidar se forem presos...
O bom legislador precisa, se quiser agir em defesa do bem público, criar instrumentos legais que impeçam a delegação de atribuições do Estado (municípios, estados e União) de forma não otimizada, degradada tecnicamente e moralmente.
Os editais para apresentação de propostas não poderiam, em hipótese alguma, serem publicados e abertas as propostas em períodos de férias e sem tempo adequado a uma boa análise popular.  Dizer que “conselhos e audiências públicas” precederam o ato licitatório é piada, pois a presença nesses ambientes é de uma fração da população, raramente de gente realmente interessada, competente e disposta a defender o povo no que se discute, pior ainda, tudo isso tem valor apenas consultivo. Os governantes exercem o poder da dissimulação e de império sobre atividades que deveriam cuidar e administrar a favor de nosso povo, dadas as formas adotadas de outorga de concessões.
Temos agora emissoras de TV estatais, internet, youtube, blogs, emissoras de TV e rádio digitais via internet, etc. viabilizando a participação popular on line e off line. Por que ainda utilizam métodos de séculos passados? De quê nossas autoridades têm medo?
Em nossa experiência pessoal vimos muitos processos de licitação após a regulamentação dos artigos de nossa Constituição que tratam de serviços essenciais. Acompanhamos minuciosamente diversos processos e assim podemos afirmar que existem rombos nas boas intenções dos legisladores e dos poderes executivos no Brasil: o intervalo entre a publicação do edital e a abertura de propostas não é regulamentado de forma adequada e a publicidade justa e necessária, moderna e completa dos projetos, contratos, regulamentos etc. a que as concessionárias estarão submetidas não acontece.
Outro aspecto importantíssimo é a forma de escolher a melhor proposta. Se a concorrência estiver baseada no máximo pagamento pelo direito de explorar (literalmente) um serviço essencial, um imposto estará sendo colocado de forma camuflada contra a empresa vencedora. Naturalmente o empreendedor dará um jeito de transferir esse custo para o serviço prestado. O usuário dos serviços a serem prestados estará pagando, sem perceber, mais essa conta. O licitante (governo) dirá que usará o dinheiro arrecadado em outros serviços, é só acreditar...
Precisamos de editais que valorizem a boa técnica e a qualidade de serviços, viabilizando com tudo isso a menor tarifa com o máximo desempenho. Isso não acontece, pagamos caro por atividades que deveriam ser muito melhores.
Nas privatizações de concessões observamos pagamentos absurdos. Vão tirar a diferença onde? Na segurança e qualidade de equipamentos e instalações?
Dá medo de passar a jusante de barragens gigantescas feitas nesse critério. A pergunta é sempre a mesma, teriam obedecido à lógica da melhor Engenharia?
Vimos e ouvimos a vivo e a cores depoimentos assustadores no Congresso do CONFEA em Cuiabá (CONFEA), será que por milagre crescemos rapidamente nas Ciências Exatas e agora possuímos profissionais suficientes e necessários ao desafio que se estabelece para construir um Brasil melhor ou todos estão mobilizados para construir estádios de futebol? Felizmente em algumas estatais reconstrói-se o que perdemos nos tempos áureos e recentes das teses neoliberais.
A partir da década de sessenta grandes estatais formaram até Universidades internas e laboratórios imensos para o desafio de criar a infraestrutura gigantesca que usamos durante as últimas décadas. O discurso vociferante contra as empresas de capital misto e autarquias viabilizaram o desmonte delas. O Brasil parou com a crise econômica interna e simplesmente usou até esgarçar o que existia. Agora precisamos e devemos refazer nossa infraestrutura e concluir o trabalho iniciado naquela época em que nossas grandes concessionárias foram criadas, aliás, concluir não, dar prosseguimento de forma acelerada para compensar as décadas perdidas.
Temos estrutura técnica para isso? Nossas leis ajudam ou atrapalham? Pior ainda, viabilizam esquemas e conveniências impublicáveis? Seria fácil corrigi-las, por que isso não acontece?

Cascaes
12.9.2012
(s.d.). Fonte: CONFEA: http://www.confea.org.br/
Amorim, C. (2012). Assalto ao Poder - O Crime Organizado. Rio de Janeiro -São Paulo: Record.
Arias, J. (12 de 7 de 2011). Por que os brasileiros não reagem? Fonte: Veja: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/feira-livre/por-que-os-brasileiros-nao-reagem/

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